quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Opinião

Invisibilidade, uma realidade das mulheres na Agricultura Familiar

A prática do semeio na agricultura familiar se deu através da curiosidade feminina, onde ousaram experimentá-la. Desta forma, a história registra que a partir dessa prática surge a agricultura. Ao longo do tempo os homens se apropriaram dessa atividade, especificamente no semiárido brasileiro, tornando-a um trabalho masculino. Além disso, se evidencia que o trabalho na agricultura esteve por longas décadas associada a uma cultura machista, que preconizava e preconiza a divisão sexual do trabalho, ou seja, as mulheres se dedicavam aos trabalhos domésticos e os homens as atividades agrícolas.
.
Conforme relato acima, percebemos que a invisibilidade das mulheres na agricultura se dá pelo fato de que o trabalho no semiárido brasileiro se configura como uma atividade laborial associada ao homem, tendo como base doutrinas patriarcais e machistas, que tenta a cada segundo tornar invisível a participação das mulheres na agricultura, seja nos meios produtivos, na gestão e no fazer cotidiano das práticas agrícolas.
. 
Ao problematizar a agricultura familiar, se faz necessário tornar visível o trabalho das mulheres, mesmo quando as atividades masculinas de cunho machista, com resquício do patriarcado, tenta ocultar o trabalho das mulheres na agricultura. Isto se constata nos estudos de caso, que procuram resgatar a história da família na agricultura e quase sempre se defronta na história que é contada, narrada pelo homem, que se apresenta como detentor do conhecimento e dono da propriedade. Dessa maneira, a participação da mulher na agricultura quase fica no anonimato, e quando raras vezes referendadas, as colocam em condições de ajudantes do companheiro, não sendo reconhecidas num trabalho que exige esforço físico, muita disposição e coragem. Portanto, o desafio das mulheres e de alguns homens solidários que buscam um mundo justo, é lutarem e somar forças para tornar visível o trabalho das mulheres na agricultura familiar.
No que diz respeito a estes desafios podemos pontuar alguns:
.
Primeiro - o reconhecimento e enfrentamento de uma cultura machista, classista, preconceituosa e excludente;
Segundo - desconstrução da divisão sexual do trabalho;
Terceiro - reconhecimento do trabalho das mulheres que quase sempre não é contabilizado no rendimento econômico familiar;
Quarto - valorizar a capacidade e criatividade que a mulher possui na gestão de produção da agricultura familiar;
Quinto - incluir as mulheres na história da agricultura familiar, como seres imprescindíveis para o desenvolvimento ecológico e sustentável do meio ambiente;
Sexto - desconstruir conceitos preestabelecidos entre os gêneros;
Sétimo - reconhecimento dos saberes e experiências que as mulheres possuem no manuseio da terra, na perspectiva da construção coletiva para o bom gerenciamento da produção da agricultura familiar;
Oitavo - valorizar o trabalho das mulheres na agricultura familiar, tendo como princípio a visibilidade dos múltiplos trabalhos por elas executados no seu fazer cotidiano.
. 
Estes desafios precisam ser enfrentados por homens e mulheres. Enfim, por todas e todos que se nutrem dos princípios reais de justiça e solidariedade, onde as mulheres possam ser inclusas, independente da classe social, da etnia e do credo religioso. Assim sendo, mulheres e homens interagindo socialmente possibilitará a elaboração de proposituras viáveis para uma convivência mais harmoniosa entre os gêneros.
. 
Este convívio equilibrado entre homens e mulheres, criará um processo que se dará mediante a desconstrução das práticas e atitudes machistas, bastante presente na nossa cultura. A mudança de atitude entre os gêneros, pode se tornar real a partir do momento da tomada de consciência de todos aqueles que praticam estas relações, tendo como enfoque a subserviência, a opressão, o desrespeito, a submissão, o sofrimento, a dor, a depressão e a amargura.
. 
A história registra que quem se encontra na condição de oprimida/oprimido diante de situações de sofrimento, quase sempre tem reagido. Desta forma, acreditamos que as mulheres terão como missão principal reagirem, diante das mazelas, causadoras do sofrimento e da dor. Somente assim, terão condições de gradativamente, encontrarem alternativas para se contraporem às práticas que as escravizam e as desumanizam cotidianamente, às vezes de maneira explicita, outras vezes de forma sucinta, porém sempre presente na vida destas mulheres.


Aparecida Firmino
Assistente Social e Coordenadora da ONG CEOP.

Um comentário:

Rejane disse...

Que ótimo texto, parabéns Cida e Olivanio. Sugiro que o mesmo seja socializado na lista de discussão da ASA PB

Rejane
Centro Nordestino de Medicina Popular